22.1.07

De todos os lados

Para o inferno, gringos! Vão para casa! Vão para casa! Nós somos livres aqui, e o seremos mais a cada dia.

Hugo Chávez, presidente da Venezuela, em seu programa dominical - 21/1/2007

Se nós estivermos seguros, vocês poderão estar seguros, e se nós estivermos salvos, vocês poderão estar a salvo. E se nós formos atacados e mortos, vocês serão definitivamente - com a permissão de Alá - atacados e mortos.

Ayman al-Zawahiri, segundo na linha de comando da al-Qaeda, em vídeo interceptado hoje pelo instituto SITE.

Se o discurso diplomático não anda muito em alta, pelo menos não deixa margem a dúvidas. A enorme importância estratégica do petróleo no mundo contemporâneo - ironicamente fomentada em grande parte pelos Estados Unidos no último século - levou países tradicionalmente submissos (e outros nem tanto) a uma posição de relativo poder econômico e, por conseqüência, a uma certa liberdade de ação. O império, hoje, não é mais capaz de manter o silêncio às custas de subornos e ameaças. Pelo menos não o silêncio de todos.

As posições defendidas nos últimos dois dias pela Venezuela e pela al-Qaeda, embora agressivas na forma, são razoáveis no conteúdo. Em tempos de interdependências, a idéia de soberania muitas vezes acaba diluída entre acordos e concessões, num ambiente fértil para a manipulação de governos e grupos por outros governos e grupos mais poderosos. O potencial destrutivo das duas declarações acima é a resposta em linguagem clara à posição dos Estados Unidos e uma afirmativa justa - ainda que belicosa: não mexam conosco!

Hugo Chávez, que desde sua posse recebe críticas redobradas por parte da imprensa brasileira, vem agindo dentro da legalidade, mesmo que isso não costume ser lembrado. A decisão da oposição venezuelana de não participar das últimas eleições propiciou a constituição de um Congresso inteiramente situacionista. Mas o jogo foi limpo, ainda que a vitória tenha sido por WO. A não-renovação da licença da Radio Televisión Caracas está dentro dos parâmetros legais, e a alegação de supressão da liberdade de imprensa é pálida diante da participação da emissora no último golpe contra o governo, em 2002. Resta saber qual a possibilidade de surgimento de grupos de mídia independente - um problema para o povo venezuelano, que deve ser capaz de se organizar de forma crítica em relação ao governo.

Al-Zawahiri defende a reação do mundo árabe em larga escala. Não cita apenas o Iraque: conclama muçulmanos de todos os lugares para a guerra que se trava no Afeganistão, na Palestina, Chechênia, Somália e Argélia. Desafia um império com o fantasma de outro império, que dominou a Europa por séculos. Dificilmente terá razão, mas os EUA também não a têm. Ao usar seu poderio militar para subjugar outros países, cria condições para que a al-Qaeda se imponha como uma alternativa para a libertação.

No final das contas, é assim que dois blocos tão diferentes - os neo-socialistas de Latinoamérica e os fundamentalistas muçulmanos - parecem se ver: como libertadores, proclamadores da independência de um sistema desigual, que não tem sido capaz de dar respostas satisfatórias aos problemas que criou. Talvez a independência não venha. Talvez assistamos a um recrudescimento violento do terrorismo, e talvez tudo continue igual. Mas talvez não. De uma coisa, porém, temos certeza: é tempo de revoluções.

(O vídeo de al-Zawahiri foi interceptado pelo Instituto SITE: http://siteinstitute.org)

Um comentário:

Anônimo disse...

duas mentiras bem contadas: pan arabismo - que não começou bem com o rei do egito e não continua bem hoje com os extremistas islâmicos - e o posicionamento político do povo em um regime democrático que se encaminha para o fim dos trâmites de controle burguês - segundo o primeiro sobrinho do pato donald's, Huguinho - voto e eleição.