12.6.07

O levante está em toda parte

Foi curioso acompanhar as notícias e não escrever nos últimos dois meses. Pouco mudou, e uma ou duas idéias que tive antes têm se tornado cada dia mais evidentes. Como a polarização amorfa que vem separando Leste e Oeste. De um lado, pós-socialistas e muçulmanos; do outro... bem, do outro os Estados Unidos. A ONU também, e a OTAN e o G8, mas apenas na medida em que as organizações gravitam em torno da política americana.

O socialismo pós-moderno (bolivariano, para Chávez; de mercado, para a China, que diz poder ensinar muito à Venezuela) flerta com governos árabes; Ortega busca aproximar a Nicarágua do Irã de Ahmadinejad, que já é parceiro declarado de Chávez, que por sua vez estreita laços entre a Venezuela e a Líbia de Qaddafi. Putin governa uma Rússia que já não é comunista e pode se dedicar à diplomacia com o bloco islâmico, agregando a este o poderio militar daquela e reforçando a independência do novo Oriente.

A ordem do dia, para os países desenvolvidos, são problemas climáticos, ditaduras e catástrofes que vêm na forma de doenças e inundações. Nunca houve tantos refugiados dos homens e da natureza. E nem tantas ameaças ao status quo: o tal capitalismo já não mais ameaçado por uma ideologia, mas pelo petróleo (que está nas mãos do inimigo e polui o planeta), por países em desenvolvimento (que exportam produtos baratos e mão-de-obra clandestina) e pela natureza (que esquenta, venta, chove). Nem Bob Dylan previu tanto.

E há, é claro, o terror.

Não há união entre os fundamentalistas islâmicos, e nem precisa haver. Do Marrocos ao Afeganistão, espalham-se grupos antiocidentais. A maldição dos warlords, líderes paramilitares que devastam o continente africano através de conflitos tribais há décadas, espalhou-se do maghreb ao oriente. O cenário caótico que surge tende a levantar poeira suficiente para tornar o mundo árabe indistinto. A generalização que ocorre - a idéia de que qualquer muçulmano é um perigo potencial - tem ajudado a fundamentar a presença da OTAN em muitos lugares. Para piorar, essa generalização se tornou tão sedutora que vem sendo adotada por torcidas organizadas e facções criminosas no Brasil, ansiosas em afirmar sua relação com os jihadistas - como se isso trouxesse heroísmo à violência. O antiamericanismo do terceiro mundo olha para Meca, ainda que não possa pôr o pé em uma mesquita.

The times they are a-changing.


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