30.4.14

Mulheres no poder

Ayn Rand é uma espécie de profeta da aristocracia do pós-guerra; uma nobreza sem história ou títulos familiares,  que conserva os signos do poder sem o lastro dos antepassados. Não é a primeira vez na história que o mandachuva do momento reclama o prestígio de seus antecessores.

Mas quando se trata do cargo de presidente, não pense no assunto partindo de um ponto de vista meio social ou altruísta - ou seja, não pergunte: Ela poderia fazer seu trabalho, e ele seria bom para o país? Imaginamos que sim, ela poderia e seria - mas o que esse trabalho faria com ela?
A questão é principalmente psicológica. Envolve uma visão fundamental da mulher sobre a vida, sobre si mesma e seus valores básicos. Para uma mulher-enquanto-mulher, a essência da feminilidade é o culto ao herói - o desejo de adorar um homem. "Adorar" não significa dependência, obediência, ou nada que implique inferioridade, mas uma forma intensa de admiração; e admiração é algo que só pode ser experimentado por alguém de caráter forte e independente em seus julgamentos de valor. A mulher parasita não é uma admiradora, e sim uma exploradora de homens. O culto ao herói é uma virtude exigente: a mulher deve ser digna deste culto e do herói que adora. Intelectual e moralmente, quer dizer, enquanto ser humano, ela deve ser igual ao homem; assim o objeto de sua adoração é, especificamente, a masculinidade do herói, e não uma virtude humana qualquer que lhe falte.
Isso não significa que uma mulher feminina sinta ou projete o culto ao herói em todo e cada homem individualmente; na verdade, enquanto seres humanos, muitos podem ser inferiores a ela. Seu culto é uma emoção abstrata provocada pelo conceito metafísico da masculinidade como tal, que ela só experimenta total e concretamente pelo homem que ama, mas que matiza suas atitudes em relação a todos os homens. Não que essas atitudes gerais possuam alguma intenção romântica ou sexual - muito pelo contrário: quanto mais elevada sua visão da masculinidade, maiores serão seus padrões e exigências. Em outras palavras, ela está sempre consciente tanto de sua identidade sexual quanto da dos outros. Quer dizer, uma mulher adequadamente feminina não trata os homens como se fosse amiga, mãe, irmã - ou líder.

Agora considere o significado da Presidência: em todas as suas relações profissionais, em todas as dimensões de seu trabalho, o presidente é a maior autoridade; é o chefe do Executivo, o comandante-em-chefe. Mesmo em um país totalmente livre, onde os poderes constitucionais se encontrem claramente divididos, o presidente é a autoridade final que define os termos, objetivos e procedimentos de cada cargo do Poder Executivo. No cumprimento de suas funções, o presidente não lida com iguais, só com inferiores (não pessoas inferiores, inferiores no sentido hierárquico de cargos, funções e responsabilidades).

Isso, para uma mulher racional, seria uma situação insuportável (e se ela não for racional, não será adequada à Presidência ou nenhuma cadeira importante, de qualquer forma). Agir como o superior, o líder, praticamente o regente de todos os homens com quem a mulher se relaciona seria uma tortura psicológica excruciante. Seria preciso uma despersonalização completa, um desapego total, e uma solidão incomunicável; ela precisaria suprimir (ou reprimir) cada aspecto pessoal de seu próprio caráter e atitude; ela não poderia ser a si mesma, isto é, uma mulher; ela precisaria funcionar apenas como um cérebro, não uma pessoa; como um pensador esvaziado de valores individuais - uma dicotomia perigosamente artificial que ninguém poderia sustentar por muito tempo. Pela natureza de seus deveres e atividades diárias, ela se tornaria a menos feminina, assexuada, metafisicamente inadequada e racionalmente revoltante de todas as figuras: uma matriarca.

É interessante que, ao negar à mulher a condução da sociedade, Rand elimina o afeto - e, por extensão, a compaixão e a solidariedade - da administração: espera-se do presidente que seja sobreumano, uma personalidade indiferenciada que toma as decisões pela coletividade. Muitos déspotas pensam sobre si desta forma.

7.12.09

Carioca


Pão de Açúcar, Corcovado, Copacabana, Ipanema e Lagoa; Complexo do Alemão, da Maré, Morro dos Macacos e Providência - o Rio adora se ver nos extremos. Mas o que existe de mais carioca do que o Largo idem? Aliás, o Centro - aquela loucura de pessoas de todos os lugares, executivos engravatados e flipeteiros de relax a 20 reais, camelôs e o Esch Café, brancas, negras, obesos e sílfides - é a mais completa tradução dessa província de saudosa memória federal. No Largo, aos pés da tetracentenária igreja do Convento de Santo Antônio, a Idade Média convive com um shopping de produtos eletrônicos chineses, e pregadores disputam os ouvidos com bancas especializadas em pagode ou flashback.
É de lá que a gente sai quando vai pro Bar Luiz.

Olhando pra trás


Tem gente que reclama, acha que olhar pra trás dá azar. Toc, toc, toc: o que dá azar é só olhar num únio sentido, é só ver a estrada e perder a viagem. Espelhos retrovisores, por exemplo, brincam com o mundo - e com o carro - de um jeito muito interessante. O controverso insulfilm também, acaba fingindo que é filtro.

Impressionante



Aterro do Flamengo, domingo desses de novembro. Tripé, longa exposição e a certeza de que todo sensor tem seus dias de tela, esperando uma pincelada de luz.

Segundo clichê


Calor, Central do Brasil, sinal fechado pra gente, guarda-chuva guardando o sol e termômetros vagabundos. O caboclo aí embaixo parecia não acreditar que o trouxa dava bobeira com uma câmera ali; depois do clique, meteu o pé.


Rio, 50 graus.