3.1.07

Confronto aberto

Não demorou tanto a intervenção americana no conflito entre Etiópia e Somália. Duas semanas após o início da guerra e apenas dez dias desde que a secretária dos EUA pediu a atenção de Sam Kutesa, ministro do Exterior da Uganda, para a região, alegando a possível presença da Al-Qaeda junto à União das Cortes Islâmicas, tropas americanas posicionaram-se na costa da Somália para "bloquear a fuga do governo islâmico", de acordo com um porta-voz do Departamento de Estado norte-americano. O bloqueio naval fecha o cerco em torno da Somália, cujas fronteiras já estão impedidas - pela Etiópia, pelo Djibute, onde se encontra uma base militar americana, e pelo Quênia, que deportou hoje refugiados muçulmanos. O espaço marítimo somaliano já vem sendo vigiado também pelo Iêmen há algum tempo, em outra tentativa de impedir a saída de muçulmanos.

Tudo isso acontece quando o exército etíope declara a disposição de perseguir "até o último muçulmano" na Somália. A cruel e recorrente crise de refugiados na África ganha contornos assustadores. Com o isolamento do país, o que se desenha é a aniquilação de um povo, já que a grande maioria da população é sunita. A agência de refugiados da ONU já pediu ao governo queniano que suspendesse as restrições de fronteira, mas a pouca credibilidade do órgão no continente e o apoio (agora explícito) dos Estados Unidos fazem crer que o apelo não deve ser ouvido.

A Somália não possui um governo formal desde 1991, ano da queda do governo de Siad Barre, que contava com o apoio da União Soviética. Desde então, a guerra entre clãs vem disputando espaço com governos provisórios e as Cortes Islâmicas. A divisão do país em Somália, Somalilândia e Puntlândia não contribuiu para a organização do território, mas permitiu que líderes religiosos conseguissem estabelecer uma ordem relativa através da aplicação da shar'ia, a lei religiosa muçulmana. Embora controlando a capital, Mogadíscio, a União das Cortes Islâmicas convive com um governo de transição eleito em 2004 em Nairóbi, no Quênia. Com o apoio da Etiópia e, ao que tudo indica, do Quênia, o governo de transição deve tentar se impor novamente - desta vez através da força.

Nenhum comentário: