20.2.07

Mardi Gras

A Rússia se posicionou claramente contra a instalação de um escudo antimíssil na República Checa e na Polônia. Ameaça tornar os escudos alvos de sua artilharia.

Já o Irã - que realizou ontem alguns exercícios militares para lembrar ao Ocidente que possui uma Força Aérea - continua a negar qualquer intenção belicosa em suas pesquisa nucleares. Um porta-voz iraniano disse ontem, no Omã, que o país é contrário à ação militar, ou mesmo a sanções econômicas. Mas que "a qualquer momento em que o Islã for ameaçado, as nobres nações iranianas não hesitarão em defendê-lo de todas as formas".

Enquanto isso, apesar de atrasos no pagamento, a Rússia garante cumprir os compromissos com o Irã em relação à usina nuclear de Bushehr.

O carnaval foi interessante para os saudosistas da Guerra Fria.

12.2.07

Como se forja um conflito

"Não é verdade. E não é justo. O Irã não forneceu aquelas armas. Isso lembra as primeiras declarações dos Estados Unidos contra Saddam Hussein, sobre as armas de destruição em massa".
A declaração, de um diplomata iraniano no Iraque, é mais uma das afirmações sem rosto que proliferam nesse conflito que parece apenas intensificar-se. Também não tem nome os militares de alta patente que entregaram as fotos de munição de suposta origem iraniana à imprensa.

De declaração em declaração, as nuvens vão condensando e escurecendo o céu do Irã. A via diplomática parece um caminho improvável para se evitar um conflito maior no Oriente Médio - um conflito que parece estar sendo forjado há algum tempo, como já defendeu Gorbachev, citado por Nelson Franco Jobim em seu blog, e Seymour Hersh, da CNN, já em 2005. Colin Powell, ex-secretário de Estado dos EUA, admite - em interessante reportagem publicada na Newsweek esta semana - que Bush não tem intenções de lidar com um governo que não reconhece. "Não há como negociar quando você diz à outra parte: 'dê-nos o que uma negociação produziria antes que a negociação comece'."

Por outro lado, é interessante a escolha de Robert Gates para o Departamento de Defesa americano. Gates não se tornou diretor da CIA em 1987, como seria natural, devido ao seu possível envolvimento no caso Irã-Contras. À época, as relações com o Irã deveriam ser melhores - ou pelo menos o tráfico de armas com o país árabe tinha uma boa razão, naqueles tempos da Guerra Fria que ele diz "quase" sentir saudades hoje. As acusações de terrorismo (a CIA estaria usando o Irã para patrocinar um golpe de direita na Nicarágua) ainda são lembradas pelos iranianos. Ainda segundo a Newsweek, um diplomata que esteve envolvido nas últimas negociações entre Irã e Estados Unidos, representando os primeiros, disse querer evitar um "Irãgate 2".

Existe uma verdade sendo fabricada, no momento. Sua ligação com os fatos e os tons que vai adquirir se revelarão com o tempo. Mas é muito possível que estejamos assistindo, já há algum tempo, a um conflito sendo forjado.

5.2.07

O tigre na África

É difícil fugir ao tema do orçamento astronômico de George W. Bush. O total de dinheiro envolvido na guerra no Iraque chegaria a 716 bilhões de dólares, quantia superior ao PIB de qualquer país do Oriente Médio - o Irã, campeão regional, atinge os 610 bilhões. E a insatisfação já começa a tomar corpo dentro das próprias Forças Armadas americanas, com a recusa do primeiro-tenente Ehren Watada em conduzir suas tropas ao Iraque por considerar a guerra ilegal. "Eu lutaria no Afeganistão, mas não no Iraque".

É difícil encontrar outro assunto, mas está longe de ser impossível. E quem chama a atenção agora é um homem de quem provavelmente ouviremos o nome com cada vez mais frequência daqui por diante: Hu Jintao. O presidente da China.

De 30 de janeiro até 3 de fevereiro, Hu Jintao esteve com o xeque Mohammed Bin Rashid Al Maktoum, vice-presidente e primeiro ministro dos Emirados Árabes Unidos; Paul Byia, presidente de Camarões; Ellen Johnson-Sirleaf, presidente da Libéria; Omar Hassan Ahmed al-Bashir, presidente do Sudão; e Levy Patrick Mwanawasa, presidente da Zâmbia. É a segunda vez que Hu vai à África em um ano.

O extraordinário crescimento da China - propagado pelo Fórum Econômico Mundial e teorizado por Lula ("bom mesmo é na China, onde você manda e todo mundo obedece. Aqui, nem o PT me obedece mais") - e suas anunciadas reservas têm permitido ao país alguns luxos. Negociar petróleo com o Sudão, mandar trabalhadores para a África e oferecer empréstimos sem juros, por exemplo. São coisas que têm deixado boa parte do mundo ocidental de cabelo em pé, levando a declarações e condenações sobre a (falta de) preocupação por parte dos chineses com assuntos de primeira linha como meio ambiente e o mercado de trabalho no continente africano. O curioso é que o país que mais polui hoje não é a China, e se recusa a aceitar programas de redução de emissão de poluentes. Mas tem forte ascendência sobre o Banco Mundial, que surge como o prejudicado da história. Como não pode competir com a oferta chinesa, suas exigências socioecológicas não podem ser negociadas. Hu Jintao está inventando um capitalismo à chinesa, explorando a fraqueza primordial do sistema e sua própria justificativa: o fato de basear-se no capital. Com a maior população do mundo sendo mantida no cabresto, a produção desenfreada e a balança comercial que tem - só exporta - a China tornou-se um país rico o suficiente para jogar o mesmo jogo que o resto do mundo.

Só que agora com cartas altas.