5.2.07

O tigre na África

É difícil fugir ao tema do orçamento astronômico de George W. Bush. O total de dinheiro envolvido na guerra no Iraque chegaria a 716 bilhões de dólares, quantia superior ao PIB de qualquer país do Oriente Médio - o Irã, campeão regional, atinge os 610 bilhões. E a insatisfação já começa a tomar corpo dentro das próprias Forças Armadas americanas, com a recusa do primeiro-tenente Ehren Watada em conduzir suas tropas ao Iraque por considerar a guerra ilegal. "Eu lutaria no Afeganistão, mas não no Iraque".

É difícil encontrar outro assunto, mas está longe de ser impossível. E quem chama a atenção agora é um homem de quem provavelmente ouviremos o nome com cada vez mais frequência daqui por diante: Hu Jintao. O presidente da China.

De 30 de janeiro até 3 de fevereiro, Hu Jintao esteve com o xeque Mohammed Bin Rashid Al Maktoum, vice-presidente e primeiro ministro dos Emirados Árabes Unidos; Paul Byia, presidente de Camarões; Ellen Johnson-Sirleaf, presidente da Libéria; Omar Hassan Ahmed al-Bashir, presidente do Sudão; e Levy Patrick Mwanawasa, presidente da Zâmbia. É a segunda vez que Hu vai à África em um ano.

O extraordinário crescimento da China - propagado pelo Fórum Econômico Mundial e teorizado por Lula ("bom mesmo é na China, onde você manda e todo mundo obedece. Aqui, nem o PT me obedece mais") - e suas anunciadas reservas têm permitido ao país alguns luxos. Negociar petróleo com o Sudão, mandar trabalhadores para a África e oferecer empréstimos sem juros, por exemplo. São coisas que têm deixado boa parte do mundo ocidental de cabelo em pé, levando a declarações e condenações sobre a (falta de) preocupação por parte dos chineses com assuntos de primeira linha como meio ambiente e o mercado de trabalho no continente africano. O curioso é que o país que mais polui hoje não é a China, e se recusa a aceitar programas de redução de emissão de poluentes. Mas tem forte ascendência sobre o Banco Mundial, que surge como o prejudicado da história. Como não pode competir com a oferta chinesa, suas exigências socioecológicas não podem ser negociadas. Hu Jintao está inventando um capitalismo à chinesa, explorando a fraqueza primordial do sistema e sua própria justificativa: o fato de basear-se no capital. Com a maior população do mundo sendo mantida no cabresto, a produção desenfreada e a balança comercial que tem - só exporta - a China tornou-se um país rico o suficiente para jogar o mesmo jogo que o resto do mundo.

Só que agora com cartas altas.

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