Como se forja um conflito
"Não é verdade. E não é justo. O Irã não forneceu aquelas armas. Isso lembra as primeiras declarações dos Estados Unidos contra Saddam Hussein, sobre as armas de destruição em massa".
De declaração em declaração, as nuvens vão condensando e escurecendo o céu do Irã. A via diplomática parece um caminho improvável para se evitar um conflito maior no Oriente Médio - um conflito que parece estar sendo forjado há algum tempo, como já defendeu Gorbachev, citado por Nelson Franco Jobim em seu blog, e Seymour Hersh, da CNN, já em 2005. Colin Powell, ex-secretário de Estado dos EUA, admite - em interessante reportagem publicada na Newsweek esta semana - que Bush não tem intenções de lidar com um governo que não reconhece. "Não há como negociar quando você diz à outra parte: 'dê-nos o que uma negociação produziria antes que a negociação comece'."
Por outro lado, é interessante a escolha de Robert Gates para o Departamento de Defesa americano. Gates não se tornou diretor da CIA em 1987, como seria natural, devido ao seu possível envolvimento no caso Irã-Contras. À época, as relações com o Irã deveriam ser melhores - ou pelo menos o tráfico de armas com o país árabe tinha uma boa razão, naqueles tempos da Guerra Fria que ele diz "quase" sentir saudades hoje. As acusações de terrorismo (a CIA estaria usando o Irã para patrocinar um golpe de direita na Nicarágua) ainda são lembradas pelos iranianos. Ainda segundo a Newsweek, um diplomata que esteve envolvido nas últimas negociações entre Irã e Estados Unidos, representando os primeiros, disse querer evitar um "Irãgate 2".
Existe uma verdade sendo fabricada, no momento. Sua ligação com os fatos e os tons que vai adquirir se revelarão com o tempo. Mas é muito possível que estejamos assistindo, já há algum tempo, a um conflito sendo forjado.
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